domingo, 18 de março de 2012



  Vejam o poema Parnasiano nascimento do grande Olavo Bilac ´´´Conheçam a Arte pela Arte``.




Nascimento


Noite ainda, quando ela me pedia 
Entre dois beijos que me fosse embora, 
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: 

"Espera ao menos que desponte a aurora! 
Tua alcova é cheirosa como um ninho....
E olha que escuridão há lá por fora! 

Como queres que eu vá, triste e sozinho, 
Casando a treva e o frio de meu peito 
Ao frio e à treva que há pelo caminho?! 

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito! 
Não me arrojes à chuva e à tempestade! 
não me exiles do vale do teu leito! 

Morrerei de aflição e de saudade... 
Espera! até que o dia resplandeça, 
Aquece-me com a tua mocidade! 

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça 
Repousar, como há pouco repousava... 
Espera um pouco! deixa que amanheça!"

E ela abria-me os braços. E eu ficava.

E, já manhã, quando ela me pedia 
Que de seu claro corpo me afastasse, 
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: 

"Não pode ser! Não vês que o dia nasce? 
A aurora, em fogo e sangue, as nuvens corta... 
Que diria de ti quem me encontrasse? 

Ah! nem me digas que isso pouco importa! 
Que pensariam, vendo-me, apressado, 
Tão cedo assim, saindo a tua porta

Vendo-me exausto, pálido, cansado, 
E todo pelo aroma de teu beijo
Escandalosamente perfumado? 

O amor, querida, não exclui o pejo... 
Espera! até que o sol desapareça, 
Beija-me a boca! mata-me o desejo! 

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça 
Repousar, como há pouco repousava! 
Espera um pouco! deixa que anoiteça!" 
E ela abria-me os braços. E eu ficava...

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