sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A Bodega de Seu Jaime

                                  A BODEGA DE SEU JAIME
  Bem do lado sudoeste do Mercado Público Municipal ficava a tão cantada e decantada bodega. Lembro-me bem da fisionomia do seu proprietário. Era um homem calmo, compreensivo e que sabia conduzir aquela taberna tão do povo.
   A mercearia tinha pouca iluminação, um cheiro forte de fumo e muito frequentada tantas vezes por dia. Lá poderíamos encontrar pavios, lamparinas, urupemas, esteiras, vassouras, querosene e cereais.
   Entretanto o que fazia a diferença era a variedade de cachaça que o mesmo comercializava. Façamos uma viagem no tempo para lembrarmos dos nomes de algumas delas: Dois tombos, Canta Galo, Chora na Rampa, Língua de Sogra, Olho D'água, Guaru, Pitu, Primeira Cabeçada, essa última preparada por Chico do Enchimento e Chico Paulo, que quando colocava a danada no copo, fazia logo um rosário. Ainda tinha Vinho de Jurubeba, Cinzano, Quinado, São João da Barra e Zinebra (Ginebra de Gato).
   Se a bodega era famosa, famosos também eram seus fregueses. Dentre muitos, lembraremos os mais assíduos: Diomedes, Tio Eugênio, Tio João Costa, Chico Xerém, João Costa, a Velha Bola, Nelson e Maria Chica, Manoel Toucinho, Joaquim Rato e Eliza, João Quixá (pai), Capão e seus meninos, Cirilo, Fernando e Júlio, a Velha do Preso, João Rajado, os Miguéis, Fiel, Chico Gasolina, Seu Vicente, Segundo, José Veríssimo, Chico Português, Gregório, Manoel e Pedro Marcelino, João Rosa, José Targino, Cleto, Israel, Chico Duvidoso, Francisquinho, Chico Dantas, Joaquim Braz, Pedro Guarda, Relâmpago, Manoel Mulato, José Tenente, Chico Macaco, O Mudo, José Padre, Pernambuco, Floro, Guachelo, Chico Raposa e muitos outros que me falha a memória.
O mais interessante era a maneira de pedir uma de cana:
-Seu Jaime, bote uma da que matou o guarda!
-Bota uma da que matou tio João Costa!
-Seu Jaime, bote uma de come figo!
-Bote uma de quando não mata aleja!

O nosso grande poeta e saudoso amigo, Hermógenes Tenente, fez umas glosa com a famosa bodega:
'A cachaça de seu Jaime
É ruim de dar pipoco,
Matou a Velha Bola
Deixou Segundo louco,
Floro bem intoxicado
Chico Português bem rouco.

A cachaça era pagã,
Seu Jaime batizou.
Fiel foi o padrinho,
Segundo apresentou.
Chico português anda
Bem prejudicado,
Foi a gripe que apanhou
No dia do batizado.' 

   E assim durante muitas décadas aquele pequeno mundo foi o ponto de convergências de muitos amigos, que passavam momentos felizes e angustiosos, mas sem nunca ter deixado de ser um ambiente ordeiro e de muita paz.
                                              João Bosco da Silva, professor e poeta

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