quinta-feira, 15 de março de 2012

 REPUBLICADO
MINHA ETERNA DIRETORA
Marcos Calaça, jornalista (UFRN)
 
            Na comemoração dos 50 anos da emancipação política de Pedro Avelino nada se tem falado do cordão umbilical de Raimunda Medeiros com o Grupo escolar Abel Furtado (isso mesmo) e a maternidade Governador Aluízio Alves.              
             O Abel Furtado, como esquecê-lo, nessa época em que se procura resgatar pouca coisa na poeira do tempo? essa escola pública, por onde passaram inúmeras gerações, como médicos, educadores, engenheiros, jornalista  e outros que se perderam no tempo e no espaço.
               Quando cheguei ao Abel  (me orgulho de ter passado por esse grupo), no final dos anos 60, ainda criança, encontrei pessoas inesquecíveis. Professores, funcionários,alunos. Todos me marcaram na fase de minha formação primária. Mas, quem me marcou profundamente pelos seus exemplos, pela sua presença respeitável, foi a diretora Raimunda Medeiros. Ela era temida pelos estudantes. Carinhosamente chamada de dona  Raimundinha. Quando saía da direção para advertir ou repreender algum aluno que fizesse algazarra, a correria da meninada era grande. Ela ganhou fama pela autoridade sem autoritarismo. Mas nós sabíamos da grandeza do seu coração de mulher ligada por poucos metros entre a educação( Abel ) e a saúde ( maternidade ). 
                 Ainda hoje, nas madrugadas de insônia, reflito muito sobre o passado escrevendo crônicas no mundo de criança que amadureceu. Dona Raimundinha é uma figura que esteve presente em toda a minha vida  educacional do antigo curso primário. Como respeitei, temi, tive medo e estimei, que na realidade era uma mulher cheia de amor, responsabilidade com visão de futuro para os seus queridos alunos. Ninguém seria capaz de ultrapassar  aquela balaustrada para invadir o nosso território, que encontraria pela frente a nossa diretora, para defender a integridade física dos nossos domínios através de um espaço geográfico delimitado.
                  Nas questões internas o aluno nunca tinha razão, em primeiro plano estava a professora. Era uma estratégia de manter o rígido controle da disciplina, numa época em que a educação familiar dominava o jovem ou a criança através de uma forte conduta moralizadora. 
                   Figura marcante, espírito forte, carismática, respeitada e respeitadora, inflexível nas suas ações para o melhor. Tivemos alguns momentos épicos , como o lado patriótico,independente do regime militar. Todos os dias a fila dos alunos era obrigatória no salão, depois é que se dirigiam para as suas respectivas salas de aula. Toda quinta-feira , antes do início das aulas, era obrigatório o Hino Nacional, da Bandeira, da Independência  e outros que não me recordo. Qualquer erro era fatal., exemplo: " Do que a terra mais garrida", alguns estudantes cantavam por erro ou por presepada " Do que a terra margarida". Nesse caso dona Raimundinha perdia o controle emocional com os que não cantavam  corretamente. Ela mandava repetir novamente. Caso algum aluno errasse, iria para a direção copiar várias páginas do livro "Terra Potiguar".
                    Outro momento lúdico era o desfile de 7 de setembro: organização, fardamento, respeito, alegoria, bateria , homenagens e coreografia. Tudo perfeito. A grande ilusão era dizer que vencemos o desfile sem nunca ter havido comissão julgadora ou classificação. No final do ano, ao receber o diploma de aprovação, entrávamos em um momento êxtase de alegria e felicidade.
                     Sim, tinha o lado do perigo. Era proibido correr em cima dos muros ( muros esses que eu tinha medo, pela altura ) e subir nas cisternas. A nossa querida diretora também se preocupava com as chuvas devido à sangria do barreiro de Geraldo Antas que, com a correnteza, tínhamos medo de atravessar um pequeno riacho. Esse mesmo local servia para a espera de uma briga: eu te pego lá no riacho. Outra preocupação para a diretora. 
                      É impressionante como as novas gerações desconhecem a história de grandes figuras pedro- avelinenses. Por um lado existe o total desinteresse dos jovens, por outro lado, falta apoio cultural por parte dos órgãos públicos para quem produz cultura. Bons tempos aqueles em que eu pisei o chão glorioso do Abel Furtado com dona Raimundinha no comando. Esse " grupo " está na história  da cidade, principalmente, com dona Raimunda Medeiros. Obrigado.


Escrito por MARCOS CALAÇA às 08h31

Um comentário:

  1. Parabéns ao Prof Marcos Calaça pela homenagem prestada à Prof Raimundinha Medeiros. Eu não sei onde ela foi mais eficiente: se ensinado o Catecismo, na Qualidade de Diretora da Escola, ou Diretora e Parteira da Maternidade Aluísio Alves.

    Prof João Bosco

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