quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Centenário do Alecrim

     O processo de urbanização vivenciado atualmente é um reflexo de alguns problemas sociais como a pobreza e a falta de emprego, juntamente com a implantação das políticas de industrialização nas cidades brasileiras. Diferente do que se procedeu na região sul do País, a inclusão do Nordeste, nesse processo, aconteceu em um ritmo mais retardado, movido basicamente pela implantação de políticas de apoio às médias e grandes indústrias, ação dirigida pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).

     Semelhante ao que tem acontecido na maioria dos centros urbanos nordestinos, no Rio Grande do Norte, o processo de urbanização se espalhou de forma rápida e intensa. Na década de 1960, por exemplo, 37,6% das pessoas viviam nas cidades, e hoje praticamente 75% dos habitantes do estado residem nos centros urbanos potiguares (IBGE, 2000). Mesmo com este crescimento populacional, verificamos que, atualmente, o estado dispõe de apenas dois grandes pólos demográficos em seu território: no extremo oeste, a cidade de Mossoró e no leste, os municípios componentes da Região Metropolitana de Natal[2], área esta que concentra mais de 40% de toda a população do estado, alojados principalmente nas cidades de Parnamirim e Natal (IBGE, 2000).

     Tanto na cidade de Natal, como em outras áreas que compõem sua Região Metropolitana, é possível observar fenômenos derivados deste crescimento desordenado, como a favelização, a violência urbana, os problemas de trânsito, dentre outros, surgidos como conseqüência do rápido processo que vem atingindo a região, tendo se intensificado nas últimas décadas do século passado.

      O bairro do Alecrim sugere a investigação destes fenômenos urbanos, tendo em vista, que o mesmo apresenta características que o colocam com um dos bairros mais importantes da cidade de Natal. A área onde se localiza o bairro é repleta de elementos a serem analisados pela ciência geográfica, observado pelo longo período de sua existência, marcado por acontecimentos importantes para a formação da atual dinâmica e (re)produção sócio-espacial da cidade.

      Este trabalho será discutido sob a ótica de dois momentos: no primeiro faremos uma visita a alguns temários que discutem conceitos que serão utilizados no trabalho e o no segundo, faremos uma análise empírica, tentando discutir alguns elementos que reproduzam a temática abordada, aplicando a teoria a um objeto de análise. Fechando a discussão, teceremos algumas considerações fFinais sobre a reflexão proposta neste trabalho.

O bairro do Alecrim: ontem e hoje

     Com o intuito de se testar a possibilidade de utilização desta abordagem, decidimos selecionar o bairro do Alecrim, localizado na Zona Administrativa Leste da cidade de Natal-RN, por abrigar um gama de elementos a serem analisados pela ciência geográfica, tendo em vista que o mesmo é marcado por acontecimentos importantes para a formação da atual dinâmica sócio-espacial da cidade.
O bairro do Alecrim dispõe de uma área de 309,37 ha e uma população de 32.356 habitantes, sendo o sétimo mais populoso da cidade, representando uma densidade demográfica de 104,59 hab./ha (IBGE, 2000).

      Desde o início de sua ocupação, já poderiam ser encontradas na localidade algumas construções e equipamentos importantes para Natal, como o único cemitério da cidade e a praça Pedro II, ambos assentados na localidade em que se construíram as primeiras casas do bairro. Mesmo assim, até então, o Alecrim aparecia apenas com uma passagem dos que vinham do interior do estado para negociar nos centros do comércio da cidade – os bairros da Ribeira e da Cidade Alta (CASCUDO,1999).

       A atual conjuntura urbana posta no bairro do Alecrim foi construída ao longo de várias décadas, estas até antecedendo a sua real criação. Sendo assim, consideramos que a atual dinâmica urbana do bairro, concebida através das práticas materiais e simbólicas, advinda de várias décadas e trazidas por este espaço natalense, proporciona que o exame desta investigação nos instigue à reflexão sobre a (re)produção sócio-espacial desta importante área da cidade de Natal. Para tanto, torna-se necessário resgatar alguns importantes elementos concebidos no decorrer de sua história, obedecendo algumas etapas temporais e tentando explicar a atual configuração urbana verificada no bairro,  como, por exemplo, o setor informal, elemento que proporcionou grandes transformações sócio-espaciais, gerando alguns problemas para grande parte dos natalenses. 

      A desorganização e a falta de controle dos órgãos públicos para com estes comerciantes trouxeram o encadeamento de complicações urbanas como a desordem no sistema de trânsito do bairro, observada na falta de estacionamentos para os veículos e nos freqüentes acidentes nas suas ruas, estes causados, basicamente, pelas irregularidades das barracas que ocupam áreas impróprias para a prática do comércio – ruas e calçadas.
No Alecrim, são encontradas diversas ruas especializadas no comércio de determinados produtos. Mesmo que de um lado, esta situação favorece ao consumidor que procura o serviço ou produto desejado em uma única área da cidade, por outro, favorece a prática de cartel por parte dos comerciantes.

      Uma outra característica importante do bairro diz respeito à sua localização geográfica, permitindo o fácil deslocamento para qualquer parte da cidade, um vez que a malha viária de Natal é o reflexo de sua expansão urbana, marcada pela presença de barreiras naturais como as dunas e o estuário do Potengi/Jundiaí. Estas barreiras são condicionantes do crescimento da cidade, caracterizada por vias radiocêntricas, através dos corredores convergentes para o centro, abrangendo os bairros do Alecrim, Cidade Alta, Ribeira e Rocas (BEZERRA, 2004).

       Enfim, a importância do bairro do Alecrim para a cidade de Natal não se resume apenas à disponibilidade dos serviços e à existência de um grandioso espaço comercial. É mais que isso, localizado em uma área central, com a existência de longas avenidas, o deslocamento para qualquer parte da cidade se torna facilitado. O fluxo viário, as ruas especializadas pelo comércio em toda a sua organização urbana não implicaram na mudança de algumas características do bairro como a permanência de um grande número de residências e a manutenção de importantes feiras populares, ora o advento das transformações observadas no espaço natalense.

                                                         Profº e Poeta João Bosco

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