Reminiscências do cotidiano
Todas
as tardes, diante da nortada, as famílias se reuniam para fazerem o café novo,
denominado “Donzelo”. Com o fogão de trempes atiçado, abastecido de lenha, a
dona de casa colocava o café em alguidar, ou num caco de ferro, que era oriundo
de caminhão, em seguida começava a ser mexido com uma palheta, que era de talo
de carnaúba ou pereiro, ou jurema. Aos poucos ia ficando escuro, até chegar a
hora de colocar o açúcar. O cheiro tomava conta da casa e se esvaia pela rua afora, despertando a vizinhança vir compartilhar
com aquela festa, tão singela, tão nossa!
O
próximo passo era pilar e peneirar o café torrado. Não existiram uns utensílios
domésticos mais característicos no Nordeste do que o pilão, a mão-de-pilão e a
peneira, também chamada pelos Tapuias, de urupema.
Em
seguida era colocado o balde, na pronuncia nordestina, “bode”, no fogo, quatro
colheres bem cheias do café novo, que era coado no pano e servido aos
presentes, na mais perfeita união.
O
café tornou-se tão brasileiro que a primeira refeição do dia, chama-se café.
Quando uma mulher ia dar a luz, tomava café amargo com uma colherinha de
manteiga, que ajudava muito, naquele momento. Para dor de cabeça, os
homeopáticos recomendavam uma xícara de café com três pingos de óleo de coco.
Para cortes grandes, de machado ou foice, colocava-se o pó para ajudar a sarar.
O pó também servia para tirar qualquer mau cheiro. Colocando-o na boca do
bêbado, amargo e forte, o levantava bem ligeirinho. Ainda havia os supersticiosos
que riscavam um fósforo e colocava a chama dentro de uma xícara de café, para
daquela silhueta que fazia ganhar dinheiro no bicho da sorte.
Era
comum, no nosso torrão, cada casa com um
fogo aceso, durante todo dia, para que quem chegasse,Logo tomaria o
café.
Às
vezes o trabalhador passava de sol a sol, somente tomando café.
Essas
ações o tempo não consegue apagar desse Brasil dos nossos avós.
João Bosco
Professor e poeta
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